Professor
William Douglas
Em viagem recente, tive a oportunidade de
visitar o Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, e aprender um pouco mais
sobre o vinho. Como se sabe, o país tem se notabilizado por um grande progresso
na qualidade de seu vinho.
Para aperfeiçoar a qualidade de nosso vinho,
uma das providências foi diminuir a produção de uva por hectare. Antes,
produzia-se de 20 a 25 mil quilos por hectare e, para se ter um bom vinho,
reduziu-se a produção para a faixa de 10 a 13 mil quilos de uva por hectare. A
iniciativa funcionou: o vinho ficou melhor.
Para diminuir a produção de uva, os
viticultores cortam parte dos cachos em formação. Em média, de cada três cachos
dois são cortados. E o corte se justifica, pois os nutrientes e a força da
parreira precisam ser direcionados. Se a parreira tiver que dividir seus
nutrientes para três cachos, a uva fica menos doce, mais fraca, com menos
qualidade. Além disso, quando os cachos ficam juntos, diminui a incidência de
luz solar sobre eles e... eles ficam mais fracos. Para que haja mais luz,
chega-se a cortar as folhas que ficam perto dos cachos.
Depois de muitos e muitos concursos, com
várias reprovações e, depois, vários primeiros lugares, comecei a me lembrar do
assunto, enquanto o técnico em viticultura e enologia, Stevan Arcari, funcionário
da Casa Valduga, explanava o tema. Era a manhã de um belo feriado e eu
caminhava com ele pelos vinhedos.
A administração do tempo do concursando é
como fazer a uva e o vinho ficarem melhores. Se você quiser uma boa qualidade
de estudo, e sucesso na produção do vinho, quer dizer, na sua produção nas
provas, vai precisar fazer uns cortes. Ao cortar as atividades supérfluas (os
cachos extras...) e ao organizar bem as atividades indispensáveis, você estará
direcionando os “nutrientes” de que seu estudo precisa para dar certo. Você vai
precisar cortar algumas folhas para que o “sol” do tempo e da concentração
ilumine seus livros, sua mente e sua aprendizagem. Aparentemente, você estará
perdendo produção, fazendo menos, mas será como o vinhedo que abaixa de 25 para
10 toneladas de uvas por hectare: as uvas que surgem são melhores.
Anos atrás, o vinho brasileiro era
discriminado e “reprovado”; depois que os produtores tiveram coragem de
melhorar a qualidade e fazer os cortes recomendados, nosso vinho passou a
ganhar prêmios e medalhas no exterior. O Merlot Premium 99, da Valduga, ganhou
nove medalhas! E você ganhará as suas, seus justos prêmios e aprovações,
nomeações e cargos, a partir do tempo em que se organizar. Claro que, até
colher as uvas, leva algum tempo, mas – como se sabe – concurso público não é
para passar, mas até passar.
Outro dado relevante é que o vinho brasileiro
é apontado com um dos melhores do mundo para evitar problemas cardíacos. A dose
recomendada pela Organização Mundial da Saúde – OMS para que o consumo de vinho
faça bem ao corpo é a de aproximadamente 300 ml por dia. Nessa dose, ele ajuda
até mesmo ao fígado. Por outro lado, o consumo excessivo é causa de cirrose e
de outros problemas de saúde, de grande parte das internações hospitalares, dos
acidentes de trânsito e de uma série de tragédias, como perda de carreiras pelo
alcoolismo, problemas familiares, separações e divórcios. Como se sabe, a única
diferença entre o veneno e o remédio é a dose. O consumo de vinho na dose
correta contribui para sua saúde; em excesso, pode se transformar em vício e
causar tragédias. É preciso responsabilidade, pois.
E a administração do seu tempo demanda o
mesmo cuidado. É preciso esforço para alcançar sua aprovação, o vencimento
certo, o status, a aposentadoria, a bela carreira pública, a chance de fazer
diferença no país. Mas este esforço tem que respeitar limites para que o
remédio não envenene sua qualidade de vida. Não adianta estudar tanto que você
não agüente o longo e trabalhoso processo de preparação.
Há atividades que não podem ser esquecidas: o
sono na medida certa, alguma atividade física, algum lazer e o tempo para você
aproveitar seu parceiro amoroso e sua família. Tentar eliminar estas atividades
é contraproducente. Outro cuidado é separar algum tempo para sua relação com
Deus. Algum tempo para ajudar o próximo e, em especial, pelo menos cinco
minutos por dia, quando você pára, respira, não pensa em nada senão em como
você está, onde quer chegar, onde pode acertar, onde errou e pode melhorar. Uma
das inteligências é saber lidar com seu próprio eu, é conseguir ficar sozinho e
se sentir bem. Claro que você pode usar estes cinco minutos para ouvir uma
música e relaxar. O importante é que são só cinco minutos, mas cinco minutos
que vão fazer seu organismo, sua mente e a qualidade de sua vida melhorar.
Nunca pense que a solução é só estudar. O
candidato mais produtivo não é o que estuda mais, mas sim o que estuda melhor.
Com um pouco de esforço, você poderá organizar sua vida de modo a estudar o máximo
possível, mas mantendo um mínimo de sanidade e equilíbrio. Um candidato que faz
isso rende mais no estudo e não “surta” nem desiste no meio do caminho.
Outro dado sobre vinho. Perguntei ao técnico,
que em breve se formará em nível superior em viticultura e enologia, se era
realmente verdade que nosso vinho é melhor para o coração do que os vinhos
estrangeiros. Seria só marketing ou o que o Brasil tem é de fato melhor?
A resposta foi espetacular. As substâncias
que ajudam o coração e diminuem o risco de enfartes são os polifenóis; dentro
dos polifenóis, há o grupo dos estilbenos (o mais famoso dos estilbenos é o
resveratrol). Os estilbenos são absorvidos pela corrente sanguínea e
transformam o LDL (colesterol ruim) em HDL (colesterol bom). Este tipo de polifenol
é a principal defesa natural que a uva cria para proteger-se dos fungos. E,
como o Brasil tem um sério problema de fungos, nossa uva tem mais estilbenos
que as uvas e os vinhos produzidos na maioria das outras regiões vitivinícolas
do mundo. Dessa forma, o fungo, que é um drama para o viticultor, torna nosso
vinho mais especial. Se o produtor brasileiro conseguir fazer o fungo não
destruir a produção de seu vinhedo, a uva bem cuidada que sair do vinhedo será
a melhor para a saúde do que aquelas uvazinhas plantadas em lugares sem tantos
transtornos e dificuldades.
Mais uma vez o concurso. As dificuldades por
que você está passando, hoje, podem ser comparadas aos fungos: vão dar um
trabalho extraordinário, vão exigir esforço, fé, persistência, garra. Em
compensação, você terá no sangue o equivalente emocional aos polifenóis das
uvas. As dificuldades que não o vencerem vão transformá-lo em alguém mais
forte, mas experiente, mais capacitado. Quando você chegar ao seu grau de
maturidade para passar nas provas, verá que parte do candidato mais sério,
organizado e preparado em que se transformou é fruto das dificuldades que
exigiram sua melhora.
Esse breve texto é um estímulo para você
continuar se esforçando. Organize bem seu tempo, de modo que haja “nutrientes”
para alimentar seu projeto de carreira; saiba dosar seu tempo para que as
coisas funcionem como remédio, e não como veneno, e, por fim, lembre-se de que
as dificuldades apenas estão moldando um vinho, digo, um candidato mais forte e
especial.
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